Eu vou continuar caminhando sozinho e devagar.
Não porque eu me sinta bem com isso, mas porque não adianta correr e me estrepar ainda mais. Não é mais uma questão de poder virar essa situação de me sentir triste... o período aonde estou agora é triste. Estou em um vale de tristeza, e todas as bifurcações continuam em tristeza.
Entende?
Não é por isso que deixa de ser um vale bonito. Não é por isso que deixa de ser um vale florido, com belas árvores, ou que não haja riso, não haja companheirismo, não haja amigos ou não haja até paz, as vezes.
É apenas um inverno.
E não importa o quanto eu corra, não importa se eu subir a montanha, ou me transformar em um atleta, ou ser um grande músico, ou um excelente engenheiro, o melhor arquiteto, um excelente funcionário... o frio não vai passar.
Esse é o inverno. Ele vai ter a sua duração de acordo com a translação da terra com o sol versus sua própria inclinação. Não há nada que eu possa fazer além de continuar nesse mesmo vale.
Diferentemente de outras vezes, eu não pretendo sair correndo. Eu não pretendo fugir do meu frio. Não pretendo me cercar de companhias vazias ou de corpos aparentemente quentes que ficam gelados.
É o que eu tento. Deus sabe como o soar incessante dos martelos da tristeza podem enlouquecer quem se priva de dormir.
Mas eu vou descansar. Cada vez bater um pouco menos o coração para hibernar, seja em uma caverna ou em um iglu.
Porque se o inverno piorar, não haverá vida pra sustentar. E aí, é preferível descansar calmo eternamente do que lutar até a última gota num desespero profundo.
É melhor aceitar uma morte calma e lenta do que agitar a própria alma à toa.
Esse corpo vai acabar eventualmente, de qualquer maneira.
Que acabe diferentemente de como viveu.