Ouvir o som dos carros na rua
O vento na janela
Os amigos na sala
Com a alma numa cela
Parece calmo num instante
Já num outro sente dor
Deitado ao meio de lençóis
Sinto a falta de ardor
Eu sinto a falta de alguém
E isso é a falta de mim mesmo
A tristeza da minha companhia
Me faz andar a esmo
Me coloco em discussão
E me perco no caminho
E eu não me reconheço
E por isso estou sozinho
Então caminho no escuro
Caindo e tropeçando
Estropiado sem sentido
Por vezes trotando
Nisso eu sinto muita falta
Arrependido um tanto
E me pergunto por que estou aqui
Tantos dia’os prantos
E aí que vocês merecem tanta felicidade
E daí que eu não posso ficar nos seus caminhos
Não posso ser ruim
E posso ficar sozinho
Eu nunca vou alcançar todas as expectativas
E nunca vou ser bom o suficiente
Que eu seja metade do que quero ser
Que alguém seja clemente
Que esse amor seja recíproco
Que a vida seja boa
Que eu possa ser
Que eu possa ser garoa
Fina, fria e constante
Calma, doce e tristonha
Que varia com o seu humor
Que se mistura com quem sonha
Nos quartos escuros sem luz
Que grita frente à morte horrenda
Que se assusta frente à dor
E da dor que se sustenta
Hoje não haverão luzes
Sentiremos o toque espectral
De todos amigos nas sombras
Nos acordando de um umbral
Hoje caminho no escuro
Pertinho da minha casa
Sozinho e sem sono
Com uma dor bem rasa
Hoje penso no futuro
E não falo nem mais nada
Quem sabe amanhã
Eu não ganhe uma amada