Tuesday, July 03, 2007

Doze horas

Começou a décima segunda hora.

O garoto levantou da cama, assustado. Um início batido, mas que quer dizer muito. E muitos autores utilizam-no, porque a maioria de suas idéias às vezes vem dos pesadelos que eles mesmos tem...
Não conseguia ouvir direito. O ouvido esquerdo principalmente parecia tampado. Ele estava um tanto suado, embora não fazia calor. Sentia febre, e mal-estar pelo corpo todo.
Levantou-se, pondo seus chinelos havaianas e fazendo um certo barulho para abrir a porta do quarto. A luz do abajur que se localizava no corredor iluminava parcamente o redor, mas ele sabia que não podia acender a luz do teto ou outras pessoas poderiam acordar.
Tentou fazer silêncio até chegar ao fim do corredor e à sala de jantar, e, mesmo sem-sucesso, acabou crendo que não tinha acordado ninguém. Acendeu a luz da sala.
A porta estava aberta para os fundos. Não sabia quem a havia aberto, mas ela estava escancarada, e as luzes acesas. Uma fina brisa percorria agora a sala, e batia no peito desprotegido, causando-lhe calafrios mas estranhamente melhorando a sensação de febre.
Ele aproximou-se, chamando um nome. Nada. Olhou de esguelha para fora, e notou uma pequena movimentação. Chamou novamente e surgiu uma pessoa, e ele fechou a porta. De repente, notou que não encontrava seu cão.
Como para responder seus pensamentos, ouviu um latido vindo lá de fora. Um latido que dizia "Não vai me deixar aqui, vai?"
O que era aquele pesadelo? Ele se perguntava, onde estavam os outros. Começou a berrar nomes, e responderam. Responderam um atrás do outro. Ele suava mais, tremia, e sentia-se fraco e oprimido.
Acordou. Estava no hospital. Estava berrando no hospital.
Estavam respondendo para ele e ele não entendia nada.

O doce gosto do chocolate no inverno.

A mulher bebericava de uma xícara na frente de uma lareira. O inverno tinha sido rigoroso esse ano, mas não havia faltado nada, e ela podia desfrutar de goles de café misturados com o produto do cacau.
A neve caía lá fora, e ela se sentiu sozinha por um momento, com um aperto no coração. Ela queria ver o mundo lá fora, talvez. Aproximou-se da janela, sentindo as garras finas do frio mais próximas conforme se afastava da lareira. A fumaça saía do recipiente, e conforme ela olhou pela janela, tanto sua respiração quanto a fumaça esfumaçaram o vidro. O vento era forte lá fora, e um galho pendia de sua árvore.
Ela virou-se e foi até a cozinha. Iria preparar mais uma xícara.

O circo chega à cidade

É época de festa. Um grande circo chegou à cidade e montou suas barracas. Caminhões cheios de animais chegam a cada dia, e logo o espetáculo começará.
A criança olha atenta pela janela do segundo andar. Seus olhos brilham cada vez que algo novo chega ao seu conhecimento. Qual será o tempo dessa criança? Décadas, séculos, milênios atrás?
Nem ela sabe. Ela olha pela janela porque gosta. E a janela e a casa nos dizem que deve ser atual o tempo, mas nada além disso. É tudo muito estranho para nós, que vemos tudo de fora.
Os animais correm soltos...
Os animais correm soltos.
Os animais correm soltos?
OS ANIMAIS CORREM SOLTOS!
Antes que ela possa gritar, um homem é pego por um leão na rua e massacrado. Ela vira os olhos antes de ver o resto, incapaz de pegar os detalhes de toda a crueldade animal. Grita por sua mãe, mas se lembra de que sua mãe tinha saído de casa havia pouco tempo, para ir em uma venda.
Ela se lembra de sua mãe.

No comments: