Wednesday, August 16, 2017

As curvas da estrada

Quando você muda a sua vida, tudo muda com você. Para uma pessoa acelerada e livre que estava estagnada há algum tempo, foi tudo que meu corpo pedia.

Mil eventos, mil situações, pessoas, emoções, trocas, experiências. Como se mil aparelhos elétricos fossem ligados em um gerador que estava em 100% há muito tempo, ocioso e desperdiçando energia.

A aceleração, a adrenalina, o 'vento no rosto', o tesão, a força, a autoconfiança. A estrada reta.

E a certeza da inconstância de tudo.

Para quem acelera, as imagens passam rápido e as misturas dos cheiros embriagam. Existe torcida, existem inúmeros passageiros que querem compartilhar as emoções com você.

E vem a curva.



A curva é interessante, porque ela é perigosa. Ela é energética. Ela chacoalha. Por incrível que pareça, você pode sim continuar acelerando nas curvas, mas não sem eventualmente bater.

Você bate em porções de coisas: muros emocionais, árvores secas, buracos na estrada, ou até em outras pessoas vindas de direções opostas. As próprias batidas colocam mais energia nessa velocidade toda. É inesperado; é por vezes gratificante se ver vivo depois dela, como ao ouvir o 'clique' numa roleta-russa.

A grande verdade é que o carro desgovernado é muito divertido, mas ninguém aguenta ficar muito tempo dentro dele. Não dá para aguentar tanta emoção. Então, para que seu carro fique sempre cheio, você vai precisar sempre estar com gente entrando e saindo o tempo todo.

Criamos agora a vida de montanha russa: se o palhaço tinha que parecer sempre feliz, a montanha russa tem de estar sempre acelerando. Não dá pra fingir acelerar.

Mas as pessoas estão sempre ali, entrando e saindo desse carro. Mas você...

É. Você mesmo. Eu mesmo.

Você precisa estar ali para as pessoas gostarem de você, né? Você precisa dirigir, né?






Não.





Não é possível acelerar sempre... Não é possível ser sempre isso.

Com o tempo...
...o carro tem de desacelerar.
...você percebe que o carro acelerado é solitário, mesmo que sempre cheio.
...você acredita que pode estar sozinho no seu carro, sem estar solitário.


Você percebe que estar sempre com alguém não significa estar acompanhado. Que estar sozinho pode significar estar com muitos, desde que as vozes na sua cabeça sejam conciliadoras e calmas.

Porque, se você está com muitos, mas as vozes na sua cabeça tem que gritar para que você ainda seja você, significa que você não ouve mais ninguém. E talvez esse seja o menor dos males de aonde você está.










Desacelerar o carro.

...é mais ou menos um hábito. Algumas pessoas desaceleram apenas por causa dos radares, mas elas deveriam estar mesmo desacelerando por causa de suas vidas.
Chegou a hora de desacelerar. Mas isso é um hábito como qualquer outro. Demora, e quando você menos vê, já o fez automaticamente de novo.






Oração;

Orar para que, nos momentos cruciais, se convença a tirar o pé.
Para sanar essa vida.
Para que essa vida continue valendo a pena ser vivida.



Porque aí, nesse momento de nirvana;
O carro cheio estará cheio,
O carro vazio estará cheio,
E o carro simplesmente será.

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